Ideal Axadrezado #015 - A Pantera mostra as garras e continua viva!

Uma reviravolta épica na Vila das Aves mantém acesa a chama da permanência
"A única coisa que temos de temer é o próprio medo", disse-nos Stuart Baxter na véspera deste duelo de vida ou morte. E foi precisamente o medo que parecia dominar-nos nos primeiros 60 minutos na Vila das Aves. Um medo paralisante que quase nos condenou à descida imediata. Mas quando o fantasma da Segunda Liga nos abraçava, algo mudou. Reagimos com a bravura que define a nossa identidade. Uma pantera sem fôlego, mas que ainda tem garras afiadas e um instinto de sobrevivência indomável.
Fossem quais fossem as debilidades demonstradas nas últimas semanas, na Vila das Aves escrevemos um novo capítulo, talvez o mais significativo desta temporada atribulada. Estávamos virtualmente despromovidos ao segundo escalão durante cinco minutos, mas a equipa nunca deixou de acreditar. Os golos de Seba Pérez e Diaby deram-nos uma vitória que nos tira do último lugar e nos coloca no lugar de playoff. Uma ressurreição axadrezada que ninguém – nem mesmo nós, tão maltratados pelas circunstâncias desta época – acreditava ser possível.
Primeiro tempo: o medo como protagonista
Na entrada em campo, a nossa invasão axadrezada nas bancadas contrastava com o futebol tímido e amarrado nas quatro linhas. O peso da importância do jogo parecia esmagar ambas as equipas. Nos primeiros 20 minutos, dominou o receio de errar, com os toques seguros a superarem as tentativas de desequilíbrios. Ninguém ousava arriscar um passe mais ambicioso ou uma finta decisiva.
O AFS, mesmo sem encantar, assumiu ligeira superioridade nos primeiros 45 minutos. Mercado, após bom trabalho de Nenê, teve a primeira oportunidade clara, mas atirou por cima. Pouco depois, o nosso guarda-redes Vaclik viu-se obrigado a fazer (mais uma!) grande defesa, negando o golo a Devenish num cabeceamento ao primeiro poste.
Apenas ao cair do pano da primeira parte conseguimos criar algum perigo, quando Salvador Agra, com um remate acrobático, fez a bola seguir para canto. Um lampejo que pouco mais fez do que animar momentaneamente as muitas centenas de boavisteiros que fizeram a viagem até à Vila das Aves com a esperança no coração.
Uma desvantagem, dois golos, e uma reviravolta materializada
A segunda parte começou com outra atitude da nossa parte. Mais intensos, mais agressivos, mostrávamos finalmente sinais de vida. Mas quando tudo parecia encaminhar-se para uma resposta consistente, o golpe: Piazon cobrou um livre desde a direita e Nenê, o veterano atacante, cabeceou com categoria para o fundo das nossas redes. Um nó na garganta formou-se em cada boavisteiro.
Nesse momento, estávamos virtualmente despromovidos. Cinco minutos de desespero total, onde tudo parecia perdido, até Vaclik nos manter na luta com uma defesa milagrosa perante Piazon na grande defesa da noite. A esperança? Renasceu através dos pés do capitão Seba Pérez, que encheu o pé de fora da área num remate colocado e potente. A igualdade trouxe nova vida, e uma crença renovada era visível no rosto de jogadores e adeptos.
Sentiram-se os nervos à flor da pele no último quarto de hora. Abascal, num remate cruzado, viu a bola embater no poste. As oportunidades sucediam-se de ambos os lados num jogo já partido, mas era notório o nosso ascendente emocional. E faltando apenas um minuto para o final do tempo regulamentar, eis que surgiu a explosão: Bozenik, atento, assistiu Diaby, e o maliano, com frieza, rematou cruzado com precisão cirúrgica, fazendo explodir o sector destinado aos adeptos do Boavista.
Mal o árbitro apitou o final do jogo, a comunhão entre adeptos e jogadores foi uma imagem para ficar na memória. Um só Boavista, em uníssono entre equipa e bancada, celebrando um triunfo que vale muito mais que três pontos – vale a esperança renovada de permanência.
As figuras de um triunfo histórico
Numa noite de heróis, três nomes merecem destaque especial. Tomáš Vaclík, impecável entre os postes, evitou o que seria um 2-0 fatal com uma defesa extraordinária. Seba Pérez, o capitão, manteve a serenidade quando todos perdiam a calma e resgatou-nos com um golaço que vai ficar na história. Sempre bem posicionado, pensou o jogo quando muitos apenas o sentiam.
E finalmente, Abdoulay Diaby, o homem do momento decisivo. O maliano que chegou em janeiro vestiu a capa de herói ao marcar o golo da vitória quando o empate já parecia inevitável. Um remate colocadíssimo que representa perfeitamente o espírito de luta desta equipa.
O cenário que se avizinha
A vitória na Vila das Aves, com a reviravolta nos minutos finais, reacendeu de forma dramática as nossas esperanças de permanência. Saímos do último lugar para a posição de playoff, igualados em pontos com AFS e Farense, mas com vantagem no confronto directo sobre ambos. É um balão de oxigénio vital, mas a nossa luta pela sobrevivência está longe de terminar. Temos pela frente duas finais, onde cada ponto poderá ser decisivo.
A vantagem nos critérios de desempate
Nas actuais circunstâncias, temos 24 pontos, os mesmos que AFS e Farense, mas ocupamos o 16º lugar (posição de playoff) graças aos melhores resultados nos confrontos directos. Esta é uma vantagem crucial que conquistámos ao longo da temporada:
- No duelo com o AFS, vencemos fora por 2-1 e empatámos em casa 0-0
- Contra o Farense, vencemos fora por 1-0 e empatámos no Bessa 1-1
Esta superioridade no confronto directo coloca-nos em posição privilegiada na luta pelo lugar de playoff.
As duas "finais" que nos esperam
Nas duas jornadas finais, o calendário não nos é particularmente favorável, mas temos de acreditar que é possível somar pontos suficientes para, no mínimo, garantir o lugar de playoff:
Boavista x FC Porto (33ª jornada)
O próximo domingo traz-nos a visita do FC Porto ao Bessa. Os adversários lutam pelo terceiro lugar com o Braga e precisam desesperadamente da vitória para manter as hipóteses de fechar o pódio da Liga. Será um adversário extremamente motivado, mas também nós temos todas as razões para lutar até à exaustão por cada centímetro do campo. O apoio dos nossos adeptos será fundamental para transformar o Bessa numa autêntica fortaleza.
Arouca x Boavista (34ª jornada)
Na última jornada, deslocamo-nos ao terreno do Arouca, uma equipa que já não luta por objetivos concretos na tabela. Teoricamente, este poderá ser um adversário menos pressionado, mas no futebol português não existem jogos fáceis, especialmente em momentos decisivos como este. Ainda assim, este jogo poderá representar a nossa última oportunidade de pontuarmos na temporada.
Os nossos rivais e os seus calendários
O desfecho desta intensa batalha pela permanência pode não depender apenas de nós, caso não vençamos os jogos todos até ao fim. Os resultados dos nossos rivais directos poderão ter impacto significativo no cenário final:
Estrela Amadora (29 pontos)
Os tricolores têm cinco pontos de vantagem sobre nós, mas ainda não têm a manutenção garantida. Na próxima jornada, recebem o AVS num jogo que teremos de acompanhar com máxima atenção, pois uma vitória do Estrela assegura a manutenção, enquanto uma vitória do AFS complicaria ainda mais a equação, pois ultrapassariam o Boavista não vença FC Porto. Na última jornada, o Estrela visita o Estoril.
AFS (24 pontos)
Os avenses visitam o Estrela na próxima jornada e fecham a temporada recebendo o Moreirense. Apesar da derrota frente a nós, continuam na luta dirceta e com possibilidades reais de garantir a manutenção. Contudo, em igualdade pontual connosco, levamos vantagem no confronto direto.
Farense (24 pontos)
Os algarvios têm talvez o calendário mais complicado: visitam o Vitória de Guimarães (que luta pelo 5º lugar) e recebem o Santa Clara (que também está na luta pelo 5º lugar) na última jornada. Em igualdade pontual, estão em desvantagem frente a nós e ao AVS.
O cenário de playoff
Se terminarmos no 16º lugar, teremos de enfrentar um playoff contra o 3º classificado da Liga 2, que poderá ser Vizela, Alverca ou Torreense. Um detalhe importante e preocupante: nas últimas quatro épocas, nenhuma equipa da Primeira Liga conseguiu vencer este playoff.
Os cenários possíveis para o Boavista
- Garantir o playoff na próxima jornada: Se vencermos o FC Porto e AFS e Farense perderem ambos, asseguramos no mínimo o lugar de playoff. Contudo, isto também significa que perderíamos a hipótese de manutenção direta, pois o AFS joga com o Estrela.
- Lutar pela manutenção direta: O 15º lugar (atualmente ocupado pelo Estrela com 29 pontos) ainda é matematicamente possível. Para isso, precisaríamos vencer os nossos dois jogos restantes e esperar que o Estrela não pontue mais. Cenário praticamente impossível.
- Lutar pelo playoff até à última jornada: O cenário mais provável é que a decisão sobre quem fica no lugar de playoff e quem desce directamente se arraste até à última jornada.
- Despromoção direta: Se não conseguirmos pontuar nos dois jogos restantes e AFS e/ou Farense somarem pontos, poderemos cair para os lugares de despromoção direta.
Tudo ou Nada
A vitória na Vila dasAves mostrou-nos que esta equipa tem carácter e capacidade de reação nos momentos mais críticos. Agora, precisamos manter essa atitude até ao último segundo da temporada. Os números mostram que o caminho é árduo, mas a vantagem nos confrontos diretos pode ser decisiva.
Aos adeptos, apenas um pedido: lotemos o Bessa no domingo e empurremos a equipa para uma vitória que pode ser histórica. Porque, apesar de todas as adversidades, o Boavista continua vivo e a lutar. Como sempre, até ao fim!
Com esta vitória, atingimos os 24 pontos e subimos ao 16º lugar, posição que dá acesso ao playoff de manutenção. Igualámos o Farense e o próprio AFS, que caiu para os lugares de descida directa. Um cenário impensável há apenas algumas semanas, quando parecia que a nossa permanência era uma causa perdida.
Agora, temos pela frente a receção ao FC Porto, um desafio de dimensão diferente, mas que enfrentaremos com outra confiança. Esta vitória provou que ainda temos vida, que ainda respiramos, e que a coragem pode superar todas as adversidades.
Como nos disse Stuart Baxter após o jogo, "Fomos bravos. A grande qualidade que mostrámos esta noite foi essa: fomos bravos, daí os adeptos estarem contentes, pela emoção que mostrámos."
Porque é isso que somos: uma pantera ferida, mas indomável. Uma pantera que, mesmo com falta de oxigénio, continua a resistir com todas as suas forças. Uma pantera que jamais se rende.
A luta continua. Até ao fim.
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