Ideal Axadrezado #013 - Luzes que se apagam, esperança que se acende

Estreia de Baxter com vitória de golo solitário de Joel Silva e reaviva Boavista na luta pela manutenção
Na luta acérrima pela manutenção, o Boavista encontrou uma lufada de ar fresco em terras algarvias. Stuart Baxter, estreou-se da melhor forma, com uma uma vitória vital (0-1) frente ao Farense, num confronto direto que permite sair da posição de lanterna-vermelha e ganhar novo alento para as derradeiras quatro jornadas.
O duelo contra o Farense foi marcado pela escassez de oportunidades claras, mas a eficácia fez toda a diferença. Num jogo típico de final de temporada, onde o medo de errar condicionou ambas as equipas, bastou um lance para decidir o destino dos três pontos - um lançamento de linha lateral executado por Abascal encontrou Joel Silva solto na área para finalizar com um remate cruzado.
A primeira alteração significativa introduzida por Baxter foi o abandono do sistema de três centrais. O técnico escocês apresentou a equipa num clássico 4-3-3, promovendo as estreias a titular de Marco van Ginkel e Miguel Reisinho no meio-campo, além da entrada de Kakay na lateral direita. Estas mudanças permitiram ao Boavista equilibrar as operações no meio-campo, área onde a equipa tinha demonstrado fragilidades nas últimas partidas.
Aos 68 minutos, quando tudo apontava para um nulo, surgiu o momento decisivo. Num lance que pareceu inofensivo - um lançamento lateral executado por Abascal - Joel Silva apareceu sem marcação e rematou cruzado para o fundo das redes. Foi o segundo golo de Joel no campeonato, este com um sabor especial pela importância que representa na luta pela manutenção.
O treinador advversário não perdeu tempo e lançou todas as suas armas ofensivas, incluindo o ex-boavisteiro Yusupha. O Farense empurrou a equipa do Bessa para trás, mas esbarrou sempre numa defesa bem organizada. Baxter respondeu reforçando o sector defensivo com as entradas de Steven Vitória e Lystsov, juntando-se a Fogning e Abascal para formar uma autêntica muralha.
A pressão final dos algarvios só criou uma verdadeira oportunidade de golo, quando Rony Lopes, em cima do tempo de compensação, obrigou Vaclik a uma defesa crucial num livre frontal. O guarda-redes checo garantiu assim os três pontos que mantêm vivo o sonho da permanência.
Sebastián Pérez foi um dos destaques do lado boavisteiro, assumindo a batuta da equipa e fazendo a diferença na recuperação de bolas e ocupação dos espaços. O colombiano, juntamente com Joel Silva, formou uma dupla de meio-campo capaz de equilibrar as operações em zonas onde o Boavista costumava ter mais dificuldades.
O sentimento de alívio era visível no rosto de Stuart Baxter após o apito final: "Fiquei muito orgulhoso do futebol apresentado na primeira parte. Apresentar aquele tipo de jogo, sempre com uma faca ao pescoço, não é fácil", referiu o técnico escocês, acrescentando: "Na segunda parte ficámos mais nervosos, tivemos de defender, mas estou orgulhoso do bem que defendemos. Vi muitas caras felizes, o que é bom e acho que não acontecia há muito tempo."
O triunfo em Faro não só permite ao Boavista igualar e ultrapassar o próprio Farense na classificação no que diz respeito ao confronto directo, ficando a apenas três pontos do AFS, como revitaliza uma equipa que parecia condenada após a derrota caseira frente ao Nacional há apenas uma semana. A esperança continua presente, e a permanência, que parecia um sonho impossível, ganha agora contornos um pouco mais realistas.
A próxima etapa será receber o Sporting, antes de visitar o AFS, seguido do último jogo em casa contra o FC Porto e a última jornada fora em Arouca. Um calendário exigente, sem dúvida, mas o espírito de luta demonstrado em Faro deixa no ar a sensação de que este Boavista está determinado a lutar até ao último segundo.
Como resumiu Joel Silva, autor do golo da vitória: "Vamos continuar a dar tudo até ao fim do campeonato. O grupo acredita, os adeptos que estiveram connosco em Faro merecem uma palavra por importarem apoio, também por acreditarem."
Venda de Bozenik volta a demonstrar gestão errática da SAD axadrezada
A suposta transferência imediata de Robert Bozenik para o Real Salt Lake lança mais uma camada de imprevisibilidade na já turbulenta temporada do Boavista. A gestão aparentemente contraditória do plantel axadrezado revela uma navegação sem rumo definido, refletindo a esquizofrenia institucional que tem marcado a presente época desportiva. Após iniciar o campeonato sob impedimento de inscrever novos jogadores de maneira deliberada e assumida, transmitindo alegada confiança no grupo existente, a SAD boavisteira mudou drasticamente de postura no mercado de inverno, tentando freneticamente levantar os impedimentos para reforçar um plantel que se revelou manifestamente curto. O esforço chegou tarde demais para a janela habitual, e a solução encontrada foi recorrer a nove jogadores livres no mercado, muitos deles fora de forma e sem ritmo competitivo.
A decisão de agora negociar Bozenik por apenas dois milhões (de euros? dólares? kwanzas?) levanta questões legítimas sobre a verdadeira motivação por trás desta operação. Será uma estratégia para garantir a viabilidade financeira até ao final da temporada, sugerindo que o orçamento inicial estava seriamente desequilibrado? Ou representa uma indicação de Gerard Lopez, o acionista maioritário, possivelmente para fazer face a compromissos noutras áreas do seu portfólio de investimentos? Do ponto de vista desportivo, a venda do principal avançado do plantel, mesmo que abaixo das expectativas em termos de rendimento, configura-se como um movimento arriscado para uma equipa que luta pela sobrevivência.
A incongruência entre o discurso de luta pela manutenção e as acções concretas da SAD alimenta especulações sobre se a estrutura já perspectiva um futuro noutro escalão que não o principal, preparando-se financeiramente para essa realidade. Alternativamente, esta decisão pode sugerir uma reformulação do projeto desportivo para a próxima época, independentemente da divisão em que o clube venha a competir. O que parece certo é que, entre as dificuldades financeiras evidentes, as decisões desportivas questionáveis e a falta de uma linha estratégica clara, o Boavista continua a navegar em águas turbulentas, com os adeptos como testemunhas impotentes de uma gestão que alterna entre mensagens de esperança e acções contraditórias.
Corte de Eletricidade no Bessa Expõe Mais um Capítulo da Crise Institucional no Boavista
O recente episódio do corte de eletricidade no Estádio do Bessa ilustra novamente, de forma preocupante, a dimensão e profundidade dos problemas financeiros e institucionais que o Boavista FC enfrenta actualmente.
Cronologia de um Episódio Insólito
Na quarta-feira passada, o fornecedor de energia elétrica procedeu ao corte de eletricidade no Estádio do Bessa devido ao não pagamento de uma dívida da responsabilidade do clube, actualemente liderado por Garrido Pereira. Esta situação obrigou a equipa principal a deslocar-se para Esmoriz para realizar os seus treinos na segunda-feira, decisão tomada da SAD.
Na terça-feira, apesar de o problema persistir, a equipa conseguiu treinar no campo secundário do Bessa. Simultaneamente, a venda de bilhetes para o jogo contra o Sporting teve de ser transferida para a loja do clube, localizada num edifício separado do estádio porque não havia electricidade para emitir bilhetes.
Finalmente, a situação só foi resolvida quando a SAD, liderada por Fary Faye, assumiu o pagamento da dívida que era maioritariamente responsabilidade do clube. Só assim foi possível restabelecer o fornecimento de energia e garantir que o jogo contra o Sporting se realizará no Estádio do Bessa.
A Divisão Institucional e o Jogo de Culpas
Este episódio evidencia, mais uma vez, a complexa e problemática separação entre clube e SAD no Boavista. Mas, para além disso, temos assistido a algo que se tornou demasiado comum no universo boavisteiro: o eterno jogo de apontar culpas.
Tem-se visto demasiados boavisteiros a criarem facções e a apontarem dedos uns para os outros. Nas notícias, o mau nome fica para o Boavista FC como instituição no seu todo, e não para "o Boavista do Garrido" ou "o Boavista do Fary". Para a opinião pública, e para prejuízo de todos nós, só existe um Boavista – o que esteve mais uma vez sem luz, o que treina em Esmoriz em vez do Bessa eo que está em risco de descer de divisão.
Quem são os responsáveis por esta situação? Vários, quase todos ainda ligados directa ou indirectamente ao clube. João Loureiro estourou financeiramente com o clube e SAD no virar do século e ainda estamos a tentar perceber e resolver esse legado. Vítor Murta, da direção anterior aparentemente delapidou o que restava do Clube com uma venda quase criminosa da SAD para um investidor que se veio a revelar muito dúbio e com poucas capacidades. A própria SAD, na figura de Fary Faye mas também do seu acionista Gérard Lopez, tem muitas culpas no cartório por não cumprir com o protocolo estabelecido com o clube (que poucas fontes de receita próprias tem), além de alavancar meios de comunicação social para transmitir recados e passar uma imagem de salvadores. O actual Presidente Garrido Pereira também não fica bem na fotografia, pois sempre admitiu ter soluções para o clube, a curto, médio e longo prazo. Apesar de muitas dívidas não serem do seu tempo, teve elementos importantes que transitaram da direção anterior, por isso não pode alegar desconhecimento do panorama actual do clube ou desconhecimento da falta de pagamento da SAD.
No meio deste jogo de "passa culpas", o que se vê na prática são 4 facções, pelo menos, a apontarem o dedo uns aos outros, enquanto a instituição Boavista FC se afunda a cada dia que passa.
É importante realçar que este divisionismo promovido nas redes sociais e no meio axadrezado serve perfeitamente aos interesses de todos estes protagonistas. Ao fomentarem guerras internas e a criação de facções, conseguem desviar a atenção do seu fraco trabalho e da sua responsabilidade na actual situação do clube. E infelizmente, muitos boavisteiros estão a cair na esparrela, entrando nestas lutas estéreis e estúpidas, precisamente num momento em que a instituição como um todo atravessa uma das fases mais críticas da sua história. Enquanto nos entretemos a discutir se "a culpa é do Garrido" ou "a culpa é do Fary", o barco continua a afundar com todos dentro, especialemtne neste momento particularmente delicado em termos desportivos. A equipa ocupa o 17º lugar, em posição de descida direta. Está a 3 pontos atrás do AFS, que ocupa o 16º lugar (posição de playoff). Numa fase em que todos os esforços deveriam estar concentrados na luta pela permanência, a equipa e os adeptos vêem-se confrontados com mais um problema extra-campo.
O Papel dos Sócios
Face a esta situação, é natural que os sócios se questionem e exijam explicações. Contudo, talvez seja hora de parar de dividir e começar a unir. Enquanto Boavisteiros, precisamos de exigir transparência e responsabilização, sim, mas também de entender que a instituição Boavista Futebol Clube está acima de todas as direcções, administrações e personalidades que por ele passam.
O Boavista não é de João Loureiro, de Vítor Murta, de Rui Garrido ou de Fary Faye. O Boavista é dos Boavisteiros. E, neste momento crítico da sua história, precisa que os seus verdadeiros donos – os sócios – deixem de lado a curto prazo as divisões e trabalhem em conjunto para encontrar soluções. Haverá um tempo para chamar todos os responsáveis a responder pelo que fizeram, assim que esta época terminar.
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