Ideal Axadrezado #012 - Derrota no Bessa frente ao Nacional e Adiamentos na Assembleia Geral

Com o pior ataque da liga, acabámos por sucumbir a um golo solitário de Tagueu que pode ter selado o nosso destino
Não deveria surpreender ninguém. A história repete-se com uma regularidade impressionante no Bessa, onde os antigos "vilões" regressam para nos assombrar. Aos 16 minutos, num lance banal de canto, o avançado camaronês Tagueu aproveitou uma desatenção da nossa defesa para desviar ao primeiro poste, suficiente para afundar uma equipa que luta desesperadamente pela sobrevivência.
Começámos o jogo com um 5-3-2 incompreensível, quando a necessidade de vitória era tão evidente. Jorge Couto optou por Filipe Ferreira no lugar do lesionado Kurzawa, mantendo uma linha defensiva conservadora que em nada serviu os nossos propósitos ofensivos. Bozenik e Diaby, isolados na frente, pouco podiam fazer sem apoios de qualidade vindos do meio-campo.
A primeira parte foi um exercício de paciência para quem esteve nas bancadas. Tirando um remate rasteiro de Bozenik e uma tentativa de Sebastián Pérez, mostrámos a mesma ineficácia ofensiva que nos tem caracterizado durante toda a temporada. O Nacional, com uma abordagem pragmática, esperou pelo momento certo e aproveitou a sua oportunidade com eficácia mortífera.
Ao intervalo, Jorge Couto finalmente percebeu o óbvio: precisávamos de mudar o sistema tático. A entrada de Moussa Koné para o lugar de Filipe Ferreira sinalizou uma mudança para 4-4-2, com Fogning deslocado para lateral-esquerdo. Esta alteração deu-nos outra presença ofensiva, mas expôs uma realidade cruel: mesmo com posse de bola e oportunidades, não conseguimos finalizar.
A segunda parte transformou-se numa avalanche de ataques axadrezados. Cruzamentos, remates, tentativas de todas as formas e feitios. Lucas França, um guarda-redes que noutros jogos parece vulgar, transformou-se num autêntico Yashin no Bessa. A defesa que fez ao cabeceamento de Diaby aos 67 minutos foi simplesmente inacreditável, um momento que personificou a nossa falta de sorte.
Os minutos finais foram de puro desespero. O Nacional recuou, praticou o anti-jogo com mestria, e o árbitro David Silva mostrou-se incapaz de controlar o ritmo da partida. Três minutos de compensação para um segundo tempo com inúmeras paragens foi outra facada nas nossas aspirações.
O que mais dói nesta derrota não é apenas a perda dos três pontos, mas a forma como aconteceu. Em casa, contra um adversário directo, num jogo absolutamente decisivo para as nossas aspirações de manutenção, voltámos a demonstrar uma ineficácia gritante na zona de finalização. As estatísticas falam por si: várias oportunidades claras desperdiçadas contra um remate certeiro do adversário.
No plano individual, Salvador Agra continua sem conseguir influenciar decisivamente os jogos, Bozenik falha oportunidades imperdoáveis, e Koné desperdiçou três ocasiões claras. Do lado positivo, apenas Vaclik, que manteve a equipa viva com duas defesas importantes a remates de Paulinho Bóia e Tagueu.
Com 18 pontos a cinco jornadas do fim, precisamos de um milagre para evitar a descida. O próximo jogo em Faro afigura-se como a última oportunidade real para mantermos uma réstia de esperança, mas o calendário é cruel: Porto e Sporting ainda surgem no horizonte. A realidade matemática é dura: mesmo vencendo os jogos teoricamente mais acessíveis, precisamos que AFS e outros adversários directos cometam vários deslizes.
Stuart Baxter, o novo técnico, herda uma equipa numa situação crítica, mas também um currículo interessante: em 1998, conduziu o AIK ao título sueco com apenas 25 golos marcados em 26 jornadas. Ironia do destino ou sinal de esperança? O tempo dirá, mas neste momento, é difícil acreditar em milagres no Bessa.
Estamos presos entre uma SAD desinteressada, um investidor ausente, e uma sucessão de erros técnicos que nos levaram a este ponto. Descer de divisão não será o fim do mundo - já aconteceu. O pior será se esta queda representar também o fim de um clube histórico do futebol português.
Assembleia Geral do Boavista FC: Pontos da Ordem de Trabalhos Adiados e Revelações Surpreendentes
A Assembleia Geral do Boavista FC realizada na última sexta-feira ficou marcada por revelações inesperadas e pelo adiamento dos dois pontos previstos na ordem de trabalhos. Uma sessão que levanta sérias questões sobre a transparência e a gestão actual do clube.
Presidente da Mesa da AG: Suspensão de Mandato Revelada
Logo no início da sessão, os sócios foram surpreendidos com uma informação relevante: o Presidente da Mesa da Assembleia Geral suspendeu o mandato no primeiro dia após a tomada de posse (18 de janeiro), facto que só foi comunicado aos associados quatro meses depois.
Esta revelação tardia levanta questões legítimas sobre a comunicação institucional e a transparência da actual direção com os sócios.
Regulamento Interno: Retirado Após Críticas
O primeiro ponto da ordem de trabalhos – a aprovação do Regulamento Interno das Assembleias Gerais – acabou retirado da discussão e votação. Após várias intervenções críticas dos sócios presentes, o próprio secretário da Mesa (e autor do regulamento?) reconheceu que o documento "ainda podia ser melhorado".
A versão apresentada, mesmo com algumas alterações em relação à proposta inicial, continuava a suscitar preocupações entre os associados.
A decisão de retirar o documento da ordem de trabalhos demonstra que a voz dos sócios ainda tem peso nas decisões do clube, um sinal positivo para a democracia interna do Boavista FC.
Relatórios & Contas: Aprovação Novamente Adiada
Quanto ao segundo ponto – os Relatórios e Contas de 2022, 2023 e 2024 – a situação também não avançou. Apenas foi apresentado o R&C de 2022, o mesmo que já tinha sido rejeitado em assembleia anterior.
Um momento particularmente revelador ocorreu quando o Presidente Adjunto (que transitou da direção anterior) afirmou que não via problemas sobre o relatório de 2022. No entanto, quando questionado por alguns sócios sobre o mesmo, mostrou dificuldade em responder às perguntas formuladas.
Sobre os relatórios de 2023 e 2024, a actual administração informou que ainda não foi possível finalizá-los. A solução encontrada por um sóci oe aceite em votação foi de adiar a votação dos três relatórios para uma próxima Assembleia Geral, a realizar dentro de 60 dias, prazo considerado necessário para que a direção anterior apresente as contas em falta.
Discussão Geral: O Ponto Que Não Estava Previsto
Curiosamente, a parte mais substantiva da assembleia acabou por ser a discussão de assuntos gerais do clube, um ponto que nem constava inicalmente na ordem de trabalhos, talvez de forma deliberada. A Mesa da AG reconheceu esta falha e permitiu o debate, onde foram abordadas questões como a situação financeira do clube, o estado das modalidades e a relação com a SAD.
Durante esta discussão, a actual direção apresentou algumas linhas gerais sobre os seus projetos para resolver os problemas do clube. Caberá a cada sócio avaliar a consistência e viabilidade destas propostas nos próximos meses.
Balanço Final da AG
Uma Assembleia Geral que terminou sem concretizar nenhum dos dois pontos da sua ordem de trabalhos levanta naturais preocupações sobre a capacidade da actual direção para resolver os problemas urgentes do Boavista FC.
Permanecem por responder questões essenciais sobre as contas do clube, a situação dos salários em atraso e o futuro das modalidades. O prazo de 60 dias para uma nova assembleia será importante para avaliar se esta direção conseguirá apresentar as soluções concretas que prometeu ter para os desafios que o clube enfrenta.
Por outro lado, a capacidade de mobilização e intervenção dos sócios demonstrada nesta assembleia revela que a base associativa do Boavista FC mantém-se vigilante e participativa, um activo fundamental para garantir que o clube continue a pertencer, acima de tudo, aos boavisteiros.
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