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Ideal Axadrezado #011 - Balão de Oxigénio em Campo e uma tentativa de lei da rolha nos sócios

Ideal Axadrezado #011 - Balão de Oxigénio em Campo e uma tentativa de lei da rolha nos sócios
De promessas eleitorais a rolhas para os sócios nas AG's: o retrato de uma direção que prefere limitar vozes a encontrar soluções

Um balão de oxigénio de Jorge Couto conquista três pontos preciosos

A vitória do Boavista em Paços de Ferreira, casa emprestada do Rio Ave, é como um comprimido para uma dor crónica - alivia momentaneamente, mas não cura a doença. Num jogo em que as panteras mostraram sinais de vida após a saída de Lito Vidigal, Jorge Couto conseguiu extrair da equipa uma exibição competente que permitiu adiar por momentos o cheque-mate que muitos já davam como certo após a derrocada frente ao Gil Vicente.

Contudo, não nos iludamos. O Boavista continua a ocupar a lanterna vermelha do campeonato, com um registo tenebroso de 11 derrotas nos últimos 13 jogos. Este triunfo por 0-2, com golos de Panzo (na própria baliza) e Vukotic, funciona apenas como um balão de oxigénio numa situação que permanece absolutamente crítica.

O sistema tático com três centrais implementado por Jorge Couto parece ter dado mais segurança a uma equipa que vinha sendo um coador defensivo. Abascal, Lystsov e Fogning formaram um trio compacto que raramente foi incomodado por um Rio Ave irreconhecível e sem ideias. No meio-campo, Vukotic, autor do segundo golo, mostrou-se imperial tanto na recuperação como na construção.

Na frente, Diaby exibiu finalmente o porquê de ter sido contratado. O ex-Sporting foi fundamental no ataque e atormentou constantemente a defesa vila-condense com a sua velocidade e capacidade de drible. Mas será que esta versão do Boavista chegará para o que resta da temporada?

A realidade é implacável: não dependemos apenas de nós próprios. Matematicamente ainda é possível a permanência, mas no plano das probabilidades o cenário é desolador. O AVS, que ocupa o lugar de playoff, tem mais cinco pontos e, mesmo enfrentando uma série de jogos difíceis (Braga, Casa Pia e Benfica), o Boavista precisaria de uma sequência quase perfeita nas últimas sete jornadas.

Pela frente, temos duas autênticas "finais" imediatas contra Nacional (em casa) e Farense (fora). Dois jogos em que apenas a vitória interessa, sabendo que qualquer deslize poderá ser o golpe final nas já ténues esperanças de permanência.

Jorge Couto, antigo jogador do clube e campeão em 2000/2001, comentou após o jogo: "Fizemos um bom jogo. O Rio Ave teve mais bola, apesar de não ser isso que queríamos. Mas é importante saber sofrer e também conseguimos jogar." Palavras cautelosas de quem sabe que esta batalha ganha está muito longe de significar uma guerra vencida.

Para os adeptos boavisteiros, que se deslocaram em bom número a Paços de Ferreira e fizeram da bancada visitante uma extensão do Bessa, resta-lhes a esperança - essa companheira tantas vezes ingrata. No sábado, frente ao Nacional, o estádio deverá registar uma boa casa, mas o entusiasmo estará inevitavelmente mesclado com o receio.

Como observou Vukotic, um dos destaques da partida: "Sabemos da nossa situação. Cada jogo é uma final agora. Não há margem para erros." Um diagnóstico realista para uma equipa que apenas adiou o veredito final, mas que continua com o pescoço na guilhotina da descida.

No futebol, como na vida, os milagres acontecem, mas raramente se repetem jornada após jornada. Para o Boavista, cada ponto vale ouro e cada deslize pode ser fatal. A luz ao fundo do túnel existe, mas continua a ser apenas uma fresta muito ténue num corredor que parece cada vez mais estreito.


A Tentativa da Lei da Rolha: A Versão de "Democracia" no Boavista FC pela Atual Direção

Quase quatro meses depois do início do mandato desta direção, assiste-se a uma tentativa preocupante de restringir a voz dos sócios boavisteiros – precisamente quando mais precisamos de nos fazer ouvir.

Uma Convocatória Repleta de Irregularidades

A Assembleia Geral Ordinária marcada para 11 de abril apresenta irregularidades gritantes que não podemos ignorar:

  1. Ausência de assinatura do Presidente da Mesa – A convocatória está apenas assinada por "A Mesa da Assembleia Geral", sem identificação do Presidente. Os estatutos são claros no Artigo 69º: compete especificamente ao Presidente "convocar as Assembleias Gerais e dirigir os seus trabalhos".
  2. Violação do direito de acesso aos documentos – Os estatutos garantem no Artigo 27º o direito aos sócios de examinar os relatórios "dentro dos cinco dias úteis anteriores" à AG. No entanto, os documentos só foram disponibilizados a partir do dia 9 de abril – e apenas o Relatório & Contas de 2022, o mesmo que foi chumbado na última AG! Isto é (mais) um desrespeito flagrante pelos nossos direitos estatutários.
  3. Ordem de trabalhos questionável – Sendo uma AG Ordinária, o primeiro ponto deveria ser a aprovação de contas. Porém, surpreendentemente, o ponto prioritário é a aprovação de um Regulamento Interno da AG para o triénio 2025-2027. Coincidência?

O Famoso "Regulamento Interno" – A Lei da Rolha em Ação

Com detalhes que começam a circular no meio axadrezado este regulamento parece ter sido concebido para limitar severamente a participação dos sócios nas Assembleias:

  • Limitação do tempo de intervenção dos sócios – Ao que parece, as intervenções serão limitadas a 5 minutos, ou até 3 minutos se houver muitos inscritos. Como se pode discutir o futuro do nosso clube em 180 segundos?
  • Restrição a deliberações fora da ordem do dia – Pelo que se sabe, o regulamento proibirá decisões sobre assuntos não incluídos previamente na convocatória, retirando poder à "autoridade suprema" que, segundo os estatutos (Artigo 64º), tem "competência ilimitada para decidir sobre todos os assuntos relevantes ao clube".

Silêncio Ensurdecedor de uma Direção em Débito

Esta tentativa de amordaçar os sócios surge num contexto particularmente preocupante:

  1. Após três meses de mandato, esta direção mantém um silêncio estratégico que contrasta fortemente com as promessas de "soluções imediatas" feitas durante a campanha eleitoral.
  2. Salários em atraso de funcionários e apelos desesperados das várias modalidades do clube continuam sem resposta.
  3. A situação Clube-SAD permanece indefinida, sem qualquer esclarecimento sobre o futuro a curto prazo.
  4. Os Relatórios & Contas de 2023 e 2024 continuam por apresentar, e o de 2022 é exatamente o mesmo que foi chumbado na última AG. Apesar de ser uma situação que vem da Direção anterior, este é um dos problemas herdades mas conhecidos.

Estatutos: Não São "Só Papel"

Os estatutos do Boavista FC não são mera burocracia – são a garantia de que o clube pertence aos sócios.

Faz sentido existir um Regulamento Interno para ajudar a organizar as assembleias? Sem dúvida nenhuma. As AGs precisam de ordem, estrutura e método para serem produtivas. Mas faz sentido que esse regulamento restrinja a Assembleia Geral, que é "autoridade suprema" segundo os estatutos e os seus sócios? Absolutamente não.

O que está em causa é o equilíbrio entre organização e democracia – podemos ter assembleias organizadas sem amordaçar os sócios. O problema deste regulamento proposto é que parece esquecer que as regras devem servir os sócios, e não o contrário.

O que está em causa não é apenas um documento técnico, mas uma visão do clube. Uma visão onde os sócios são tratados como meros espectadores, e não como os verdadeiros donos do Boavista

O Que Fazer?

Apelamos a todos os boavisteiros que:

  1. Compareçam à AG de 11 de abril, levando o cartão de sócio e com a quota de março em dia.
  2. Exijam o cumprimento dos estatutos e o respeito pelos direitos dos associados.
  3. Recusem qualquer regulamento que limite o poder supremo da Assembleia Geral e a participação dos sócios.

O futuro do nosso clube está nas mãos dos sócios. Não permitamos que seja retirado por manobras regulamentares de uma direção que, até agora, só ofereceu silêncio quando prometeu soluções.

O Boavista é, e sempre será, dos Boavisteiros.


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