Ideal Axadrezado #006 - O Despertar no Relvado e o Grito de Socorro nas Modalidades

GRAÇAS A LYSTSOV A ESPERANÇA RENASCEU COMO O SOL DE DOMINGO!
O herói russo cabeceou para a vitória nos minutos finais, encerrando um jejum de 359 dias sem vencer em casa. O Boavista continua a acreditar na permanência!
Finalmente o sol voltou a brilhar no Bessa! Depois de 359 dias sem saborear uma vitória caseira, o nosso Boavista quebrou a maldição ao derrotar o Santa Clara por 1-0. A emoção foi tanta que até o nosso timoneiro, Lito Vidigal, não conteve as lágrimas ao apito final, num momento de comunhão com os mais de 5.000 boavisteiros presentes nas bancadas.
Um Bessa rejuvenescido pela "vitamina D"
Sob um sol radiante que parecia anunciar dias melhores, entrámos em campo com a formação habitual em 3-4-3, com Ibrahima Camará e Vukotic a serem os responsáveis por fazer a ligação entre defesa e ataque.
Injectados de confiança e determinação, começámos a partida de forma destemida. Logo no primeiro minuto, o árbitro Bruno Vieira apontou para a marca dos onze metros após um puxão adversário, mas o VAR travou prematuramente a nossa alegria, indicando que a falta tinha sido fora da área. Salvador Agra não se intimidou e, na cobrança do livre, acertou no poste com um remate potente que fez estremecer a baliza.
Os açorianos procuraram responder, principalmente através das incursões de Gabriel Silva e Matheus Pereira pelo lado esquerdo, explorando o espaço entre Lystsov e Agra. No entanto, a nossa defesa mostrou-se sólida, com Fogning a destacar-se pelo seu poderio físico e capacidade de aceleração, liderando a linha defensiva pelo exemplo.
Estratégia de resistência
Após um nulo ao intervalo, o segundo tempo continuou amarrado, com muitas faltas a quebrarem o ritmo de jogo. Os insulares aproximavam-se ocasionalmente da nossa baliza, mas encontravam sempre um Vaclik tranquilo, que não precisou sujar muito o equipamento para travar as finalizações pouco inspiradas dos visitantes.
Fomos nós, apesar de termos menos posse de bola, quem criou as situações mais perigosas. Diaby, que tem mostrado estar mais apto fisicamente que outros reforços, teve um remate que obrigou Gabriel Batista a uma defesa espetacular.
Lito Vidigal, sentindo que o momento pedia mudanças, ajustou a equipa, dando mais peso ofensivo ao nosso jogo. E a estratégia acabou por dar frutos!
O momento-chave: o cabecear da esperança
Quando o relógio marcava 81 minutos, o nosso russo, Vitalii Lystsov, emergiu nas alturas após um canto cobrado por Salvador Agra. Num movimento perfeito, cabeceou com critério para o fundo das redes, fazendo explodir o Bessa! Gabriel Batista, que tinha feito algumas defesas importantes, nada pôde fazer para impedir o nosso central de se transformar em homem do jogo.
A explosão de alegria nas bancadas foi indescritível. Quantos meses de frustração foram libertados naquele grito colectivo? Quanto tempo esperámos para ver o nosso Boavista triunfar em casa? A resposta esteve nas lágrimas de Lito Vidigal após o apito final, no abraço emocionado com os adeptos, na comunhão perfeita entre equipa e bancadas.
Lito acredita, e nós também!
"Eu sofri tanto quanto os adeptos", confessou um emocionado Lito Vidigal na conferência pós-jogo. "Sei o que este clube tem passado e no final tomei um pouco as dores dos adeptos, mas também porque é preciso motivação para continuar a alimentar o sonho", defendeu o técnico.
Lito havia dito na antevisão que precisávamos de cinco vitórias para garantir a permanência - uma já está! Com mais esta vitória, subimos aos 15 pontos e, embora ainda ocupemos o último lugar, reduzimos a distância para os nossos adversários diretos. A missão continua hercúlea, mas o horizonte já não parece tão impossível.
Destaques individuais
Vitalii Lystsov - O herói da tarde! Além do golo decisivo, esteve seguro defensivamente, apesar de algumas dificuldades iniciais com a velocidade de Matheus Pereira. Mostrou-se sempre perigoso nas bolas paradas, até concretizar o golo que deu a vitória.
Sidoine Fogning - Exibição sólida do central francês. Não facilitou nas acções divididas e foi muito competente na ação defensiva, liderando a defesa pelo exemplo.
Salvador Agra - Um dos melhores em campo, esteve em quase todas as nossas ações ofensivas. Bateu o canto para a cabeça de Lystsov e ainda teve tempo para um livre ao poste. Deixou tudo em campo.
O que vem pela frente
Agora, a nossa caminhada segue com o Vitória de Guimarães, numa recepção novamente no Bessa, que teremos de transformar em fortaleza. Se conseguirmos juntar mais três pontos, podemos começar a sonhar com aquilo que muitos julgavam impossível.
"Acredito que pode ser um grande trabalho, que é um ponto de viragem. É a muito trabalho a nível físico, como táctico", afirmou Salvador Agra, expressando o sentimento da equipa.
Como Lito Vidigal enfatizou, a mentalidade já se nota diferente. Os reforços de inverno, apesar de ainda precisarem de mais ritmo, trouxeram uma revitalização necessária ao plantel. O nosso guardião Vaclik está a demonstrar ser uma mais-valia, e jogadores como Lystsov mostram que vieram para ajudar.
A luta pela permanência é muito difícil, mas não impossível. Temos um Boavista que não desiste, que luta até ao fim, que tem o carácter indomável que sempre caracterizou a nossa pantera.
E nós, boavisteiros, podemos ser o diferencial nesta caminhada. O Bessa precisa de nós, como mostrou neste domingo de festa. Juntos, podemos ultrapassar mais este desafio na história centenária do nosso Boavista.
Por isso, façamos ecoar o rugido da pantera: o Boavista ainda está vivo e pronto para lutar!
O grito das Modalidades: A Crise Estende-se a Todo o Universo Boavisteiro
A saga de problemas no Boavista FC ganhou na semana passada mais um capítulo preocupante quando algumas modalidades amadoras representativas soaram o alarme, num ultimato que não deixava margem para interpretações: a situação atingiu um ponto crítico que ameaça a própria sobrevivência de uma parte fundamental da identidade do clube.
Os directores das secções de ginástica, andebol, voleibol, futsal e futebol feminino emitiram na sexta-feira passada um comunicado conjunto exigindo à direção presidida por Garrido Pereira a regularização imediata dos salários e subvenções de treinadores, staff e atletas, em falta há mais de dois meses, bem como o pagamento de operações logísticas. A situação foi apresentada como tão grave que estes responsáveis ameaçaram suspender por tempo indeterminado a estrutura dirigente das respetivas modalidades num prazo de 72 horas (até domingo), caso não fossem atendidas as suas reivindicações.
Passado o Ultimato, Silêncio e Incerteza
É quarta-feira, e o prazo dado pelos responsáveis das modalidades já expirou há três dias. No entanto, ao contrário do que se anunciava, não houve uma suspensão pública das actividades da estrutura dirigente das modalidades. O jogo contra o Santa Clara realizou-se normalmente no domingo, sem que o acesso ao estádio fosse impedido pelos funcionários, como tinha sido ameaçado.
Fontes internas indicam, no entanto, que os funcionários continuam sem receber os salários em atraso, e não houve qualquer comunicação oficial da direção sobre as medidas tomadas para resolver a situação descrita no ultimato. Este silêncio é, por si só, revelador da abordagem que tem sido adoptada perante os problemas.
As modalidades parecem continuar a operar minimamente, o que sugere que algum tipo de mitigação ou negociação pode ter ocorrido nos bastidores. No entanto, a ausência de transparência e comunicação pública sobre este assunto mantém a incerteza sobre o real estado da situação.
Um Problema Estrutural
É importante contextualizar que o Boavista não é apenas o futebol profissional. Durante décadas, o clube do Bessa construiu uma identidade multifacetada, com dezenas de modalidades que representaram (e representam) o emblema axadrezado ao mais alto nível. Esta faceta do clube foi, muitas vezes, o seu principal motivo de orgulho em períodos em que o futebol não correspondia às expectativas.
Estamos a falar de mais de 30 modalidades que, de acordo com o comunicado, enfrentam dificuldades idênticas. É toda uma estrutura desportiva e social que está em risco, afectando muitas centenas de atletas, muitos deles jovens em formação.
Promessas vs. Realidade
A actual direção, liderada por Garrido Pereira, tomou posse há pouco mais de um mês. Durante a campanha eleitoral, foram feitas promessas específicas sobre o desenvolvimento das modalidades. No entanto, de acordo com os diretores signatários, a realidade tem sido bem diferente:
"Verificamos que, ao contrário do prometido da vossa parte, existe incumprimentos salariais generalizados (...) falta de pagamento de infraestruturas, resultando em cancelamento de treinos (...) ausência de comunicação concertada (...) inexistência de um plano estratégico para o desenvolvimento das modalidades."
Mais preocupante ainda foi a alegação de que ultimatos isolados emitidos por várias modalidades foram "completamente ignorados pela Direção".
Implicações Mais Amplas
Esta situação não afeta apenas as modalidades em si, mas tem ramificações potencialmente devastadoras para todo o clube:
- Os funcionários do clube ameaçaram paralisar funções, algo que não aconteceu (pelo menos publicamente), mas que continua a ser uma possibilidade dado que, segundo fontes internas, os salários continuam em atraso
- O processo de certificação das modalidades de futsal, futebol formação e futebol feminino está em risco, o que pode inviabilizar "não só o futuro das referidas modalidades como também a participação da equipa principal de futebol na I Liga"
- Embora o estádio tenha aberto normalmente para o jogo contra o Santa Clara, a continuidade das operações sem resolução dos problemas estruturais é uma equação insustentável a médio prazo
Uma Questão de Prioridades
O comunicado apontou para um problema significativo: "Sabemos que a vossa atenção tem sido mais centrada na SAD do que no clube". Esta frase resume uma crítica que tem sido recorrente: o desequilíbrio entre a atenção dada ao futebol profissional e às restantes vertentes do clube.
É compreensível que, num momento crítico como o atual, com a equipa principal em último lugar e a lutar pela sobrevivência na I Liga, as atenções se concentrem na SAD. No entanto, esta abordagem coloca em risco todo o restante património desportivo do Boavista FC.
Contextualizando Responsabilidades
É apenas justo reconhecer que muitos dos problemas estructurais enfrentados pelas modalidades não nasceram com a direção de Garrido Pereira – são feridas antigas que sangram há vários anos. No entanto, duas questões não podem ser ignoradas: primeiro, durante a campanha eleitoral, o actual presidente afirmou publicamente ter capital imediato para injetar no clube, criando expectativas que até agora não se materializaram; segundo, a sua direcção inclui elementos que transitaram da anterior administração, pessoas que conheciam a realidade financeira do clube e, portanto, não podem alegar surpresa perante a gravidade da situação.
Esta continuidade parcial entre direcções levanta questões legítimas sobre a real vontade de mudança e sobre a capacidade de implementar soluções verdadeiramente diferentes das que falharam no passado. Se há crises que se herdam, há também responsabilidades que se assumem no momento em que se apresenta uma candidatura com promessas específicas.
Reflexão Final
Este episódio, mesmo sem o desfecho dramático (e ainda bem!) que se anunciava, continua a evidenciar a necessidade urgente de uma gestão profissional, transparente e responsável no Boavista FC. Uma instituição centenária merece mais do que promessas não cumpridas e comunicação deficiente.
Como referimos num artigo recente, o papel dos sócios é fundamental nestes momentos. O silêncio ou a passividade perante situações destas apenas contribui para a sua perpetuação. A exigência de responsabilidade não é apenas um direito, mas um dever de todos aqueles que verdadeiramente se preocupam com o futuro da instituição.
Se o futebol profissional já atravessa uma crise profunda, o colapso das modalidades amadoras seria um golpe potencialmente fatal na identidade histórica do Boavista. A aparente normalidade destes dias pós-ultimato não deve ser confundida com uma resolução dos problemas. É mais provável que seja apenas uma pausa num conflito que continua latente, à espera do próximo capítulo.
Subscreve a nossa newsletter para receberes directamente no teu email as últimas análises, crónicas e reflexões sobre o nosso Boavista. Junta-te a esta comunidade e acede ao nosso arquivo de edições anteriores aqui.
Member discussion