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Ideal Axadrezado #005 - Quando o Amor ao Boavista FC exige mais que apoio

Ideal Axadrezado #005 - Quando o Amor ao Boavista FC exige mais que apoio
Bancada do silêncio e ausência de crítica construtiva do Boavista Futebol Clube


Vaclik evitou humilhação na Luz: Resistimos quanto pudemos, mas cedemos sob pressão encarnada


Somámos este sábado a oitava derrota consecutiva na Liga, caindo por 3-0 na visita ao Estádio da Luz, num jogo onde a diferença de qualidade entre as equipas ficou evidente, principalmente após a expulsão de Miguel Reisinho no início da segunda parte. Resistimos durante algum tempo, graças sobretudo à extraordinária exibição de Tomas Vaclik, que na sua estreia pelo nosso clube evitou números mais avultados no marcador.

Lito Vidigal, apostado em tentar reverter a situação dramática que vivemos, apresentou várias novidades no onze inicial, incluindo a estreia de quatro reforços contratados após o fecho oficial do mercado: Vaclik na baliza, Lystsov na defesa, o médio Van Ginkel e o atacante Koné. O técnico apostou num sistema tático defensivo com três centrais (Lystsov, Abascal e Fogning), Joel Silva e Agra nas alas, e um meio-campo composto por Seba Pérez, Van Ginkel e Reisinho, com Bozenik e Koné na frente.

Entrámos em campo com uma estratégia claramente definida: defender em bloco baixo com uma linha de cinco defesas, apoiada por três médios, sacrificando a capacidade ofensiva em prol da segurança defensiva. Durante os primeiros 25 minutos, conseguimos conter o Benfica, mas sem nunca demonstrar grande capacidade para sair a jogar ou criar qualquer tipo de perigo para a baliza de Samuel Soares.

A nossa resistência acabaria por ceder aos 28 minutos, quando Andrea Belotti, assistido por Bruma, inaugurou o marcador. Ainda assim, conseguimos manter-nos no jogo até ao intervalo, com Vaclik a protagonizar várias defesas de elevado grau de dificuldade, evitando que o Benfica ampliasse a vantagem. O nosso guardião checo negou golo a Belotti, que ainda acertou no poste, e também a Amdouni e Kokçu.

O ponto de viragem definitivo aconteceu logo no início da segunda parte. Apesar de Lito Vidigal ter substituído preventivamente Seba Pérez (que já tinha cartão amarelo) por Ibrahima Camará ao intervalo, Miguel Reisinho acabaria expulso com vermelho direto aos 52 minutos, após entrada dura sobre Kokçu, que obrigou à intervenção do VAR.

Reduzidos a dez elementos, vimo-nos completamente dominados territorialmente. Abdoulaye Diaby, recém-entrado, ainda assustou com um remate perigoso, mas seria o Benfica a voltar a marcar por Pavlidis aos 70 minutos, assistido por Aktürkoglu. Kokçu, de penálti, fechou o resultado aos 75 minutos, após falta de Lystsov sobre Samuel Dahl.

Destaques individuais

Tomas Vaclik - Exibição monumental na sua estreia pelo nosso clube que lhe garantiu o prémio Homem do Jogo. Realizou pelo menos três defesas impossíveis e várias outras intervenções decisivas. Salvou-nos de um resultado mais avultado e mostrou que poderá ser uma peça fundamental na nossa luta pela permanência.

Miguel Reisinho - O seu cartão vermelho condicionou totalmente a nossa equipa. Já vinha de uma exibição desastrosa frente ao Estrela, e hoje voltou a falhar quando mais precisávamos. Uma entrada imprudente que hipotecou qualquer hipótese de pontuar.

O que vem aí

Após mais esta derrota, continuamos na última posição da tabela com apenas 12 pontos. A nossa situação é cada vez mais dramática, e vemos aproximar-se o fantasma da descida, tendo pela frente dois jogos cruciais em casa contra o Santa Clara e o Vitória de Guimarães.

"Estes dois jogos em casa são de enorme importância, são mesmo duas finais. Não só porque uma vitória animicamente poderia tirar-nos do lamaçal em que nos encontramos, mas para começarmos a recuperar terreno para os clubes à nossa frente na classificação", explicou Lito Vidigal na conferência pós-jogo.

O técnico mostrou-se ainda assim otimista com o que viu: "Apesar do resultado, vimos algumas melhorias, principalmente na integração dos novos jogadores. Temos agora mais uma semana para trabalhar e acredito que vamos estar ainda melhores contra o Santa Clara."

Para a próxima jornada, Lito Vidigal terá que repensar o nosso sistema tático, uma vez que o esquema de cinco defesas revelou as suas limitações. A ausência de laterais de raiz é um problema grave que tem nos deixado vulneráveis, com Joel Silva e Agra a serem forçados a adaptações que não favorecem o rendimento da equipa.

As expectativas para o próximo jogo aumentam com a possível disponibilidade de Kakay e Ariyibi, que não foram utilizados no Estádio da Luz. Se conseguirmos uma vitória contra o Santa Clara no próximo domingo, ainda haverá esperança de atingirmos, pelo menos, o play-off de manutenção. Caso contrário, o calendário que ainda inclui jogos contra FC Porto e Sporting nas últimas jornadas torna a nossa situação praticamente insustentável.


O Direito e o Dever de Exigir Mais do Boavista Futebol Clube

Numa instituição centenária como o Boavista, a palavra "sócio" deveria carregar em si um significado mais profundo do que apenas uma quota mensal e um cartão de acesso ao estádio para ver o futebol da SAD. Ser sócio de um clube não é apenas um estatuto – é ser co-proprietário de uma história, de um património e, acima de tudo, de um futuro.

Nos últimos anos, o Boavista tem assistido a um lento mas persistente processo de deterioração. Como uma casa antiga que começa a mostrar rachas nas paredes, o nosso clube exibe sinais cada vez mais evidentes de uma estrutura fragilizada. E nós, sócios, temos aceitado esta realidade com uma resignação preocupante.

Sobre o Silêncio que Consente

Existe um velho provérbio que diz que "quem cala, consente". Quando um clube centenário atravessa uma das fases mais críticas da sua história e o silêncio predomina, não estamos apenas a consentir – estamos a ser cúmplices.

Da formalidade das Assembleias Gerais a conversas do dia-a-dia de sócios, que deveriam ser espaços de debate e escrutínio, transformaram-se em formalidades vazias. As poucas perguntas incómodas são rapidamente abafadas por explicações vagas. O aplauso fácil substituiu a análise crítica. A lealdade ao clube confunde-se, muitas vezes, com uma lealdade cega a quem o administra.

A Diferença Entre Apoiar e Fiscalizar

Apoiar o Boavista não significa aceitar tudo sem questionar. Pelo contrário: o verdadeiro adepto é aquele que, precisamente porque ama o clube, exige que ele seja gerido com o máximo rigor e competência.

Responsabilizar não é atacar. Questionar não é dividir. Exigir transparência não é criar problemas – é, simplesmente, exercer um direito e um dever que todos temos enquanto sócios.

O Preço da Passividade

A história recente do nosso clube demonstra o preço elevado que se paga pela passividade. De crise em crise, de promessa em promessa, temos aceitado explicações que, em qualquer outro contexto das nossas vidas, nunca aceitaríamos.

Quantas vezes ouvimos a frase "a situação está a ser resolvida"? Quantos "planos estratégicos" foram anunciados nos últimos anos? Quantas "viragens de página" já nos prometeram?

E, mais importante, quantas vezes exigimos verdadeiramente resultados concretos dessas promessas?

O Boavista que Merecemos

Existe uma frase dura mas necessária: "Cada povo tem o governo que merece". Talvez, com as devidas adaptações, possamos dizer que "cada clube tem a direção que os seus sócios permitem".

O Boavista que temos hoje não é fruto do acaso. É o resultado directo das nossas acções – e, mais frequentemente, das nossas omissões. Da nossa relutância em questionar. Da nossa resignação perante o insuficiente. Da nossa capacidade infinita de acreditar em promessas, mesmo quando a experiência nos ensina o contrário.

O Caminho Para a Mudança

O primeiro passo para qualquer mudança significativa é a consciencialização. Precisamos de reconhecer que o silêncio não é uma virtude quando o que está em causa é o futuro da instituição que amamos.

Precisamos de estar presentes nas Assembleias Gerais, nos círculos do clube, em qualquer meio que se fale de Boavista FC. De fazer perguntas incómodas mas que precisam de ser feitas. De exigir respostas concretas. De propor alternativas. De entender que o escrutínio não é uma ameaça ao clube – é uma garantia da sua sobrevivência.

Se outros clubes conseguiram reinventar-se após períodos de crise profunda, porque não o Boavista? A diferença, muitas vezes, está na capacidade dos sócios de se unirem não apenas para apoiar, mas para exigir.

O Despertar Necessário

O Boavista é muito maior do que qualquer direção, do que qualquer presidente, do que qualquer momento específico da sua história. É um património colectivo que pertence a todos os boavisteiros – passados, presentes e futuros.

Talvez tenha chegado o momento de um despertar colectivo. De percebermos que o verdadeiro amor pelo clube se manifesta não apenas no apoio incondicional nos momentos bons e maus, mas também na exigência constante de uma gestão à altura da grandeza da instituição.

Porque o Boavista que teremos amanhã será, inevitavelmente, o resultado do que exigirmos – ou não – hoje.

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